O
Barão Wilhelm Ludwig Von Eschawege, foi um nobre alemão, diretor do Real
Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro, autor do “Pluto Brasiliensis”
(1813), que escreveu como encarregado de estudar e fomentar a já então decadente
indústria da mineração. É uma grande autoridade em assuntos brasileiros, tanto
que foi o mentor de Goethe, quando se entregou ao estudo dos mesmos, pelos quais
passou a interessar-se vivamente o gênio de Weimar.
Transcreverei
aqui parte da excelente obra, traduzida pelo Dr. Domício de Figueiredo Murta.
Este
importante documento, a que dá um cunho de grande valor a autoridade moral do
grande barão, é um relato que nos leva a imaginar quem foi verdadeiramente a
dama injustiçada que foi Dona Joaquina do Pompéu. As mentiras e lendas inventadas
a seu respeito caem por terra ao lermos esta descrição de uma pessoa que com
ela conviveu e por tradição sabemos ser o mesmo uma pessoa de grande valor
moral e ético. D. Joaquina do Pompéu, foi
investida de autoridade por aqueles que viam nela um caminho e conforto para
seus problemas, por sua personalidade forte e grande senso empreendedor convergiam
nela todos aqueles que tinham nela um porto seguro.
É
um testemunho irretocável e definitivo da generosidade, fidalguia e
cavalheirismo da lendária senhora, o qual comprova a sua hospitalidade franca e
nunca regateada a quantos a seu solar aportavam.
No
volume 2º, pág. 280 e 281, lê-se o seguinte:
De Pitangui
em diante viajamos por amenos campos, banhados por numerosas lagoinhas, onde ao
lado da gigantesca jiboia, milhares de aves palustres, aquáticas, grandes e
pequenas, ostentam a sua deslumbrante plumagem.
Chegamos
assim à Fazenda do Pompéu, que possui uma superfície de 150 léguas quadradas,
pelos menos. Ela é habitada unicamente pela família da proprietária desse
principado, cujos súditos seriam as quarenta mil gado que habitam essas regiões
despovoados e anunciam ao viajor a proximidade de habitações humanas.
No Pompéu,
em virtude de insistente pedido, tivemos de permanecer alguns dias na
residência da generosa matrona, viúva Dona Joaquina da Silva Oliveira Castelo
Branco, que conta dentre seus descendentes sessenta netos. Munidos de todos os
viveres possíveis, que davam para diversas semanas, partimos dali para os
sertões de novos despovoados, onde nada se poderia arranjar.
NOTA DO
AUTOR: desejo tornar público aqui a minha gratidão a essa senhora e
a seus filhos pela maneira gentil com que durante semanas, ás vezes, me
acolheram nas frequentes viagens que fiz àquela região e pela maior
hospitalidade que dispensaram a diversos naturalistas, recomendados por mim.
Devo desmentir também um boato que corre a meu respeito, espalhado por alguns
viajantes e subscrito por outros. Teria sido contrário à delicadeza dessa digna
senhora oferecer a um Barão alemão um presente de mil bois e algumas centenas
de cavalos, e receber este um tal
presente.
NOTA DO
TRADUTOR: essa senhora célebre pela energia de que era dotada ocupa
lugar importante na história do Oeste de Minas. Sua Vida tumultuosa e quase
lendária não encontrou ainda quem quisesse retratá-la. E no entanto poucas
mulheres já viveram vida igual em que a administração de um feudo imenso, que
era a fazenda e as lutas políticas da época, em que tomou parte saliente,
fizeram dessa mulher um exemplo vivo de coragem, de energia e de amor à terra
natal, digno de ser seguido. Seu velho solar, que abrigou tantos sábios ilustre
está hoje em ruínas e sua fazenda, que era em extensão o que é hoje o município
de Pompéu, subdividiu-se em várias outras. Nada mais resta, senão lendas pouco
respeitosas às vezes e um punhado de ruínas do velho solar, tão cheio de vida e
de movimento outrora.
O
testemunho autorizado do Barão Eschwege anula em definitivo a obra da
maledicência que tem procurado enxovalhar a memória dessa mulher admirável,
cuja vida foi entretecida de tantas virtudes, quantas podem enobrecer a
criatura humana.
Êle, mais
que ninguém revestido de uma idoneidade insuspeita, è quem nos manda de além-mar,
quando presta contas de seus trabalhos científicos do “hinterland” brasileiro,
aquelas referências elogiosas, que traduzem a irretorquível verdade, acerca da
existência em terras brasileiras de uma mulher excepcional, cujo espírito e
coração se comparam em grandeza à extensão de seu domínio feudal e se
extravasam em prestígio e benemerência até os próprios governos, a que às vezes
ela estende as mãos, não para pedir, mas para dar, em gestos de filantropia e
patriotismo e em atos de abnegação e renúncia.
Está, pois,
reabilitada na plenitude de sua pureza a memória de Dona Joaquina do Pompéu,
cujas legítimas tradições reivindicam para ela lugar proeminente no altar da
pátria.
A tradição
de uma coragem varonil foi certamente a que lhe deu o sentido mais decisivo na
vida, obrigando-a a andar armada para a sua defesa pessoal.
Conta-se
que ela um dia dissera na intimidade dos seus: Sou eu Talvez o único homem
dessas redondezas!
Eis
portanto um verdadeiro relato sobre Dona Joaquina do Pompéu, tal como era,
jamais como queriam que fosse os seus gratuitos detratores e desconhecedores de
sua vida.
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