quinta-feira, 17 de março de 2011

O Sobrado da Fazenda Nossa Senhora da Conceição do Pompeo ( Casarão de Dona Joaquina)



O Solar do Pompéu - APHC

Sua construção teve inicio no final do séc. XVIII e teve como construtor o mestre – carapina Tomé Dias. O palacete era a sede do feudo, que constituíam as terras de Dona Joaquina, segundo descrição de Wilhelm Ludwig Von Eschwege(1777 a 1855) – Barão de Eschwege -  que nele se hospedou, quando aqui passou a mando do Rei de Portugal a fim de catalogar os minérios do Alto São Francisco que resultou na publicação de seu livro “Plutos Brasiliensis”, que é dedicado a Dona Joaquina e seus familiares.
Dona Joaquina possuía mais de mil escravos e, ao morrer, seu latifúndio abrigava perto de 60 mil cabeças de gado. Dotava de grande sentimento patriótico, chegou a fornecer ao Imperador dom Pedro I, escravos, gado, mantimentos e dinheiro para o sustento dos soldados durante a iminente batalha entre Brasil e Portugal, por nossa Independência em 1822. Este sobrado foi sede de importantes decisões e berço de milhares de descendentes de Dona Joaquina, entre eles figuras de projeção nacional na política, na magistratura, na medicina, nas artes, na literatura bem como membros do Clero da Igreja Católica.
O casarão tinha cerca de 80 cômodos, divididos em dois pavimentos, tendo como acesso ao segundo pavimento uma bela escadaria em estilo colonial. Do lado de fora uma grande varanda dava boas vindas aos visitantes (que não vemos nesta foto que representa os fundos do solar), tendo também cada porta lateral uma sacada independente. Observamos nesta imagem que o estado de preservação do imóvel era precário, não sendo, é claro motivo de sua extinção, o que muito nos entristece.
Esta foto foi tirada provavelmente na véspera da demolição que ocorreu no dia 26 de abril de 1954, precisamente às 14 horas. Segundo relatos da época uma “grande nuvem de poeira cobriu a região de Pompeu Velho”.
Muito se lamenta da demolição deste nosso patrimônio que foi demolido sem ordem direta do governador da época. É uma injustiça culpar o Governador Benedito Valadares pela demolição do Sobrado. O que houve? Ora meus caros leitores, sempre que o defendo várias pessoas são contra, pois não raciocinam a respeito desta parte de nossa história.
O governador Benedito Valadares era trineto de Dona Joaquina e Cap. Inácio, tendo ele aqui vários parentes e grande admiração por sua ilustre ancestral, comprou o Sítio do Pompéu Velho, no ano de 1943 a fim de tombar(preservar como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais) e ali construir uma escola Agrícola. Acontece que em 1945, como é de conhecimento geral, o Presidente Getúlio Vargas é deposto, e caindo o presidente, caíram também seus interventores, ou seja Benedito Valadares(Governador Interventor de Minas Gerais). O casarão foi ao chão em 26/04/1954, portanto no governo de Juscelino Kubitschek. É necessário que se corrija esta lenda que mancha a História do Governador Valadares, não querendo é claro culpar Juscelino que ao meu entender não tomou nem conhecimento deste ato que foi comandado por funcionários da Camig, então sediada em Pará de Minas.
Esta foto é muito conhecida e tornou-se um ícone da História de Dona Joaquina. Quantos de nós ao ouvirmos falar neste nome – Joaquina do Pompéu – não vemos a imagem desta foto ou sua reprodução em alguma tela em diversas casas de nossa cidade? Creio que a maioria lembra-se desta imagem, que povoa nossa curiosidade e desejo de ter nascido a tempo de ver esta grande estrutura que foi como mencionei acima o berço, a origem de uma descendência que conta com aproximadamente 40 mil pessoas.



quarta-feira, 16 de março de 2011

Pe. Bertoldo Van Zee



Pe. Bertoldo Van Zee - 1969 - APHC

Um dos maiores beneméritos de nossa cidade foi sem sombra de dúvidas Pe. Bertoldo Van Zee, que assustava os fieis quando falava das “profundas dos infernos”, e ao mesmo tempo abençoava a todos como um pai complacente, na certeza que como filhos de Deus alcançariam o paraíso.
 Adrianus Theodorus  Henricus Van Zee, nasceu em Haia, Holanda aos 15 de abril de 1906, filho de Petrus Maria Van Zee e Dona Adriana Eysachers. De uma família tradicionalmente católica em um pais não tão católico em que o liberalismo e relativismo davam um certo ar de modernidade e cultura.
São carentes os dados referentes ao ano da vinda de Pe. Bertoldo para o Brasil, mas sabemos que trabalhou na paróquia de Santa Ana de Pirapama. Veio para Pompéu no inicio da década de 1960, ficando aqui até sua morte em 29 de janeiro de 1977, no Hospital São Lucas em Belo Horizonte, onde fora para tratar de sua saúde.
Pe. Bertoldo tinha um amor filial para com Pompéu, cidade onde trabalhou os últimos  dezessete anos de sua vida, dedicando-se aos pobres e necessitados de espirito.  Graças a Pe. Bertoldo temos hoje a Santa Casa de Misericórdia que mesmo algumas pessoas não querendo aceitar seu passado apresenta em sua entrada a fotografia do Padre que tanto a ajudou nos primeiros passos. Pe. Bertoldo doou também a primeira ambulância, distribuiu inúmeras cestas básicas, reformou a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, comprou o carrilhão elétrico que anuncia até os dias de hoje os momentos de oração e reflexão, e tidos como um dos mais belos conjuntos de sinos das Minas Gerais. Construiu a então capela e hoje Matriz de São José Operário no bairro da Volta do Brejo levando para o bairro mais afastado da época a oportunidade de não se deslocarem para o centro da cidade e levando para este bairro um certo desenvolvimento que se constatou com a elevação desta capela ao grau de Matriz Paroquial.
No dia de seu falecimento os sinos de Pompéu bateram de hora em hora anunciando a triste notícia da morte de seu pai espiritual.
Hoje em dia devemos sempre lembrar da figura austera de Pe. Bertoldo e lembrar que Deus não é um Pai rancoroso, que guarda mágoas pelas atitudes erradas de seus filhos, mas um Pai complacente. Um Deus que é Pai e é Amor!


Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em Pompéu

Matriz de Pompéu - Década de 1940 - APHC
As religiões são instituições de suma importância para a formação da sociedade e sua identidade cultural, sobretudo em questões de conforto da alma em todos os momentos de dificuldade em nossas vidas. A igreja Católica é uma das grandes detentoras do patrimônio histórico deste país, com suas igrejas, colégios, palácios Episcopais, dentre outras edificações que foram construídas para engrandecer o Santo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e Sua Igreja. Este patrimônio tem grande valor para nossas tradições e devem ser  preservadas por toda posteridade.
Como não poderia ser diferente, um dos principais cartões-postais de nosso município é nossa Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, sede da paróquia com o mesmo nome.
Os dados referentes ao início de sua construção são poucos e confusos. Sabe-se que a primeira igreja de Pompéu fora construída dentro de cemitério local, onde, na década de 1960 foi erguida a Santa Casa de Misericórdia. O terreno havia sido doado por Dona Joana Evangelista(a quem Pompéu nunca soube devotar devida homenagem).
No ano de 1864 encontramos referências claras de sua fundação. É claro que não era a mesma igreja que vemos hoje, mas uma bem menor com um estilo um pouco discrepante do atual. A primeira foto desta edição é da década de 1930, e certamente foi tirada após a reforma em que o arquiteto de Belo Horizonte, Dr. Pimentel construiu a atual fachada com duas torres  ecléticas(pois trás vários estilos, como o gótico e o clássico) e um belíssimo portal de colunas coríntias. Já na segunda fotografia observamos ao fundo as sacadas na lateral tendo embaixo pequenas janelas, que durante a grande reforma em que Padre Geraldo Carvalho empreendeu em 2005 foram redescobertas com muita surpresa. Chamo a atenção para as janelas que eram de madeira  no alto das torres, que existiam na época, devido talvez à falta de sinos. A praça era um grande paço onde reinava a bela igreja um cruzeiro(que hoje  encontra-se, em parte na porta do cemitério) ladeado por duas palmeiras.


Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Década de 1940 - APHC

O querido povo de Pompéu, independentemente de seu credo religioso deve proteger esta bela obra que pertence a todos. Sede do sacrifício da missa, de grandes eventos como a Semana Santa,  batizados, primeiras-comunhões e casamentos de nossos bisavós, avós, pais e poderá ser dos filhos e netos de vários pompeanos que correm à casa da Mãe para pedi-la que interceda junto ao Seu Filho por todos nós.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - 2009 - APHC


Vista interna da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Altar-Mor -  2009 - APHC

domingo, 13 de março de 2011

Município de Pompéu recebe doação de complexo que abrigará Centro Cultural


O município de Pompéu recebeu no último dia 28/02, as chaves do Complexo Arquitetônico da Fazenda do Laranjo, que em breve se tornará um dos mais importantes centros de refência de estudo da História do matriarcado colonial mineiro.

O Complexo Arquitetônico da Fazenda do Laranjo, foi construído depois de um acordo entre o Consórcio Construtor da Usina Hidroelétrica Retiro Baixo(Orteng e Arcadis), o Município de Pompéu e o Ministério Público.

A fazenda do Laranjo ficava no local onde foi construida a Usina Hidroelétrica Retiro Baixo, e por ser inventariada pelo Patrimônio Municipal foi salva do desaparecimento.

O complexo é formado pelo centenário sobrado do fazenda do Laranjo, que foi reconstruído seguindo o modelo e usando o maior número possivel de peças de madeira, como janelas, portas, engradamentos e escadas, um edifício que servirá de sede para o Conselho do Patrimônio Histórico, Administração do Centro Cultural, e sala de Arquivo de Documentação Histórica.  Faz parte do complexo um anfiteatro construído com as peças do antigo curral da fazenda. O local abrigará o Centro Cultural Dona Joaquina do Pompéu.


Sobrado do Laranjo, reconstruído em Pompéu - AFHC


Eu e Prof. Harold Chagas, grande coloborador e colega de trabalho no Conselho do Patrimônio Histórico - AFHC

Escada interna do Sobrado - Flávia Dias/Comunicação do Município de Pompéu


Edifício que abrigará o Conselho do Patrimônio Histórico, Sala de Audivisual, Reserva Técnica, Documentação e administração - Flávia Dias/Comunicação do Município de Pompéu



Dr. Rubens, Bruno, Tadeu Melo, Dr. Mauro Castro, Hugo de Castro, Joaquim Campos Reis, Drª. Rute e Jhonson Xavier, na sala que sediará o Conselho do Patrimônio Histórico - Flávia Dias/Comunicação do Município de Pompéu


Sala de audiovisual - Flávia Dias/Comunicação do Município de Pompéu



sábado, 12 de março de 2011

O MORGADO DE PE. DR. JORGE DE ABREU CASTELO BRANCO (PAI DE DONA JOAQUINA DO POMPÉU)

       As virtudes humanas devem ser veneradas e preservadas, e são as maiores heranças que podem ser deixadas por nossos ancestrais.
      A partir desta semana publicaremos a cada sábado documentos do Morgado. Mas o que é o Morgado? Neste contexto que vos apresento, o Morgado é um testamento espiritual deixado pelo Pe. Dr. Jorge de Abreu Castelo Branco, pai de Dona Joaquina do Pompéu. Pe. Dr. Jorge de Abreu Castello Branco nasceu no ano de 1723 na cidade de Viseu em Portugal e era filho de José Rabello Castellobranco e Dona Izabel Maria Guedes.
      Era bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, mas ainda na juventude iniciou a carreira eclesiástica chegando a receber as Ordens Menores das mãos do Bispo de Nankin, Dom Frei Manoel de Jesus e Maria em 1745. No ano de 1747 já tendo abandonado a vida religiosa muda-se para o Brasil e vem para cidade de Mariana, onde se casa em 1748 com Jacinta Tereza da Silva, natural da Ilha do Faial, filha de Gaspar José da Silva e de Dona Bernarda Maria da Conceição. O casamento ocorreu na capela de Santo Antônio do Bacalhau, freguesia de Guarapiranga, Diocese de Mariana.
O casal teve os seguintes filhos:
 - Eufrásia Leonor Guedes da Silva Sobral Abreu Castelo Branco, casada com Dr. Manuel Ferreira da Silva;
  - Ana de Abreu Castelo Branco, que casou-se com o viúvo de se sua irmã Eufrásia;
  - José de Abreu Castelo Branco;
  -  Agostinho de Abreu Castelo Branco;
  - Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco(há controvérsias sobre a assinatura Souto Mayor), casou-se com o Cap. Inácio de Oliveira Campos em 1763 na Vila de Pitangui.
  - Francisco Jorge de Abreu Castelo Branco
  - Floriana de Abreu Castelo Branco;
  - Domiciano de Abreu Castelo Branco;
  - Germano de Abreu Castelo Branco;
        No ano de 28 de março de 1762, Dona Jacinta Tereza falace em Mariana onde seu corpo é sepultado precisamente na capela do Cemitério de São Francisco, irmandade da qual era irmã. No mesmo ano Dr. Jorge envia uma petição ao então Bispo de Mariana, Dom Manoel, com o ensejo de finalizar seus estudos e ser ordenado padre da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, o que vem acontecer no dia 24 de setembro do mesmo ano.

       Permanece em Mariana até ser transferido para Pitangui, para onde leva seus filhos e inicia a composição do Morgado, que é dividido em 15 documentos que nos levam um estado de graça e entendimento de fé, justiça e atitudes morais nortearão nossos pensamentos nessa sociedade atual que nos faz querer acreditar que o laicismo e o relativismo são caminhos modernos e corretos.
Este Morgado além de nos dar uma direção a seguir nos traz um perfil familiar de grande zelo espiritual e moral na qual vivia a jovem Joaquina e sua família. Uma pessoa criada nestes costumes não poderia jamais se tornar esta lenda cruel na qual tentaram transformar Dona Joaquina do Pompéu, que foi uma mulher a frente de seu tempo por suas atitudes justas e cristãs.
Assim inicia o Morgado:
“Instrução que deixo a meus filhos com a recomendação de que se governarem por ela, tomando cada um em particular para si as advertências que lhes faço.
Já que não está de minha parte amado filho, o fazer te feliz com o moderado patrimônio que possuo te não habilita para ficares rico, nem me dá meios para te gozares mais honras com as quais nascestes quero ao menos concorrer para a sua mais solida felicidade, instituindo um Morgado, para que possas seguramente gozar sem vocação de primogenitura par que se entenda igualmente a  todos e ainda no que for aplicável também às fêmeas para que lhes a sujeito a Lei Sálica, ou Mental: Tanto mais estimado quanto menos depende da fortuna de tal rendimento, que quanto mais uso fizeres dos bens que nele te deixo, menos falta hão de fazer. E por que não tardes em os gozar recebe já as propriedades que o constituem nos seguintes documentos:”
DOCUMENTO I
Ama sempre a Deus sobre todas as coisas; e para que este amor seja verdadeiro é necessário que conheças as razões que te obrigaram a ama-Lo. É Deus eterno e uma razão da dita que não teve princípio nem há de ter fim. Não podia ter principio porque não podia ter outra entidade que lhe desse nem há de ter fim, porque não pode acabar quem não principiou. Este mesmo Ser Eterno criou e sustenta sua suma ordem e perfeição no Universo. Tudo Lhe obedece, exceto o homem que sendo o que mais Lhe deve, é o mais ingrato. O primeiro que criou, transgrediu um único preceito que Deus lhe impôs, e desta transgressão deixou no pecado original manchada toda a sua descendência. De livres e capazes da glória passamos a escravos da culpa e sujeitos a eterna pena.
Oh que desgraça! Mas o mesmo Senhor que sendo um só Deus são três Pessoas, mandou o Sagrado que é o Unigênito e Eterno Filho tomar sobre si o peso dos nossos pecados. Ele tornou carne humana para poder morrer por nós, e com morte temporal e afrontosa que veio a sofrer nos abriu a porta da vida eterna.
Deixou nos a Lei da Graça e nos Sacramentos os remédios para nossas reincidências. Espera nos a emenda delas dando-nos auxílios para levantar de tantas quedas. Enfim são tantos e tais os favores que da Eterna Benedicência(sic) recebemos que não é possível numera-los, e todos naturalmente nos inspirarão o Amor Divino.

Na próxima semana apresentaremos o DOCUMENTO II.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Dona Joaquina do Pompéu



Dona Joaquina do Pompéu - Yara Tupynambá, 1998

"Solar da Fazenda Nossa Senhora da Conceição do Pompeo"

   Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco de Oliveira Campos, nasceu em Mariana-MG, aos 20 de agosto de 1752. Era filha de Dr. Jorge de Abreu Castello Branco(que mais tarde, após se tornar viúvo finalizou seus estudos eclesiásticos e ordenou-se padre), natural da cidade de Viseu, Portugal, e Dona Jacinta Tereza da Silva, nascida na Ilha do Faial, que também pertencia a este reino.

   Em 1763, Pe.Dr. Jorge de Abreu Castelo Branco, muda-se com a família para a cidade de Pitangui, onde Joaquina conhece Cap. Inácio de Oliveira Campos, com quem viria a  se casar no ano seguinte, ela com apenas 12 anos de idade.

   Capitão Inácio de Oliveira Campos era descendente de grada família paulista, filho de Inácio de Oliveira e Ana Campos Monteiro. Vale ainda ressaltar que era neto do grande Bandeirante que desbravara o sertão de Pitangui, Antônio Rodrigues Velho, também conhecido como Velho da Taipa.

   Após o casamento se mudaram para a fazenda de Nossa Senhora da Conceição, que pertencera a Antônio Pompeu Taques. A sede da fazenda era precária, sendo necessário construir uma nova residência para o casal. Os trabalhos de construção do Sobrado do Pompéu iniciaram no final do séc. XVIII e teve como construtor o mestre-carapina Tomé Dias. O solar era a sede de um feudo com cerca de 1 muilhão de alqueires estendiam-se de Pará de Minas a Pitangui e de Pompeu até Paracatu.

   Dona Joaquina, floresceu seu instinto empreendedor após a doença do marido _ Cap. Inácio ficara paralítico em uma de suas viagens ao sertão do Paracatu _  tendo que assumir a liderança da fazenda do Pompéu, organizou os vários currais espalhados pelo “sertão” das Minas Gerais implementando assim a criação do gado de corte. Segundo o historiador Marcus Flavio;

                                      ...em 1825, ano em que foi feito inventário dessa rica fazendeira, contavam com cerca de 43.560 cabeças de gado. Essa enorme boiada não encontrava saída apenas nos mercados das Minas, dirigindo-se para o Rio de Janeiro, e talvez, até mesmo para outras regiões do Brasil.

    Esta menção nos dá uma idéia do pioneirismo de Dona Joaquina, o que foi reconhecido em sua época pelas autoridades reais, pois ela solidificou seu nome após fazer doações de mantimentos para abastecer a corte faminta recém chegada de Portugal em 1808. Estas doações foram bem recebidas pelo Príncipe Regente Dom João(futuro Dom João VI) e isto ajudou em sua imagem comercial, firmando assim praça no Rio de Janeiro para a venda do gado e possivelmente de outro mantimentos provindos do Pompéu.

       Recebeu uma expedição chefiada pelos Barões Von Eschwege(diretor do Real Gabinete de Mineralogia do Rio de Janeiro) e Freyreiss, respectivamente em 1811 e 1813. Ficaram hospedados no solar do Pompéu, e ao retornarem à Corte o Barão de Eschwege dedicou  seu livro “Pluto Brasiliensis” à Matriarca de Pompéu e sua família. Barão Von Eschwege foi uma grande autoridade em assuntos da mineralogia brasileira, já então em queda naquela época, foi mentor de Goethe em seus estudos. Transcrevo um trecho da obra, traduzida por Dr. Domício de Figueredo Murta, no volume 2°, pag. 280 e 281:
                                                ...de Pitangui em diante viajamos por améns campos, banhados por numerosas lagoinhas, onde ao lado de uma jibóia, milhares de aves palustres aquáticas, grandes e pequenas ostentam a sua deslumbrante plumagem... Chegamos assim à fazenda do Pompéu que possui uma superfície de 150 léguas quadradas pelo menos. Ela é habitada unicamente pela proprietária deste principado, Dona Joaquina Bernarda, cujos súditos são as 40.000 cabeças de gado...                                       

     Fez também grandes doações por ocasião da iminente guerra da Independência em 1822, doando mais uma vez gado para o abastecimento das tropas. Segundo Agripa Vasconcellos, o patriotismo de Dona Joaquina era tão grande que durante o período em que se tratava da independência do Brasil de Portugal, ela “usava em sua roupa fitas na cor verde-e-amarelo” representando seu amor ao Brasil. Esteve com o Príncipe Dom Pedro na então capital da capitania, Vila Rica de Ouro Preto, quando de sua vinda à Minas Gerais. Segundo relatos da época “uma grande comitiva com mais de 10 mulas chegou a Vila Rica, parecia até o cortejo de um bispo”.

   Foi uma grande senhora para sua época, das lendas que existem pouco se pode aproveitar. Se analisarmos a lógica da época e os documentos que existem, percebemos que era uma boa mãe, uma boa sinhá enfim uma grande matriarca a frente de seu tempo.  Podemos concluir tudo isso com um exemplo simples e de conhecimento geral, mas que as pessoas nunca param para pensar. Este exemplo é o de Dona Joaquina ter mandado construir um cemitério Cristão para sepultar seus escravos, o que era inédito, pois estes cativos, na maioria das vezes eram tratados como animais, mas na fazenda do Pompéu eram tidos como Cristãos e quando faleciam tinha direito a missas e uma sepultura digna. Ou seja, todas as honras de um branco da época.



Dona Joaquina teve 10 filhos:
1°- Anna Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Thimóteo Gomes Valadares;
2°- Félix de Oliveira Campos, casou-se com Eufrásia Maria da Silva;
3°- Maria Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com Cap. Luiz Joaquim de Souza Machado(de quem descende o autor)
4°- Jorge de Oliveira Campos, casou-se com Antônia Maria de Jesus;
5°- Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com Antônio Álvares da Silva;
6°- Isabel Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Martinho Álvares da Silva;
7°- Inácio de Oliveira Campos, casou-se com Bárbara Umbelina de Sá e Castro;
8°- Anna Joaquina de Oliveira Campos, casou-se com João Cordeiro Valadares;
9°- Antônia Jacinta de Oliveira Campos, casou-se com Joaquim Cordeiro Valadares;
10°- Cap. Joaquim Antônio de Oliveira Campos, casou-se em primeiras nupcias com Claudina Cândida Lataliza França. Casou-se pela segunda vez com sua sobrinha Anna de Campos Cordeiro, filha de sua irmã Dona Antônia.  

João Joaquim de Souza Machado, neto de Dona Joaquina e Cap. Inácio. Filho de Maria Joaquina de Oliveira Campos e Cap. Luiz Joaquim de Souza Machado. Meu trisavô.
    Destes filhos citados nasceu uma vasta descendência, composta por 87 netos, 333 bisnetos, 1108 trinetos, que originaram algumas famílias influentes como Castelo Branco, Lopes Cançado, Guimarães, Abreu e Silva, Cunha Pereira, Álvares da Silva, Machado(Souza Machado, Castro Machado, Serra Machado), Cordeiro, Valadares, Maciel, Oliveira Campos, Pinto Ribeiro, Adjuto, Sigaud, Vasconcelos, Capanema, Mascarenhas, Melo Franco, dentre outras. Desta prole nasceram grandes autoridades políticas, militares, religiosas; Benedito Valadares(governador de Minas Gerais), Afonso Arinos de Mello Franco(Ministro, embaixador e político), Gustavo Capanema(Político, foi ministro e Governador de Minas Gerais), José Magalhães Pinto(Governador de Minas Gerais), Ovídio de Abreu(deputado), Simão Viana da Cunha Pereira(deputado),  Francisco Campos(ministro e jurista), Dom Carlos Carmelo Vasconcelos Motta(Cardeal Arcebispo de São Paulo e Aparecida), Dom Geraldo Proença Sigaud(Arcebispo de Diamantina), Milton Campos(governador de Minas Gerais) entre outro vários nomes que ilustram nossa História em vários cenários de atuação. 

     Faleceu aos 72 anos de idade, no dia 7 de dezembro de 1824, na fazenda do Pompéu e foi sepultada na capela do cemitério da mesma fazenda.

   São poucas as mulheres que lutaram pelo Brasil e ajudaram em sua construção, Dona Joaquina é uma destas mulheres que marcaram seu tempo com suas histórias e mitos, não esquecendo sua importância e pioneirismo em relação às lutas de igualdade feminista em relação aos homens, não esquecendo que tudo isso se passou no final do  século XVIII e início do século XIX. Hoje só temos a certeza de que foi uma das construtoras do Brasil, e por este motivo é necessário que resgatemos sua memória e seu projeto de engrandecimento de nossa terra, de nossa Centro-Oeste mineiro.

Hugo de Castro - 2009






O início

Diletos leitores deste singelo blog, que inicio com o simples intuito de trazer a todos, os resultados de minhas pesquisas referentes à história e memória de nossa querida cidade de Pompéu e sua gente acolhedora e fraterna.

O nome Pompeano é uma homenagem a um dos primeiros jornais de nossa cidade que surgiu na década de 1910, e que trazia em seu editorial notícias de um pacato arraial do "Buriti da Estrada", que vivia uma herança moral opulenta da lembrança de sua matriarca Dona Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco(de Oliveira Campos), a quem renderemos muitas laudas referentes a seus feitos assim como de toda sua família.

Conto com a colaboração de todos que se interessam por nossa história tão curiosa, rica, e ao mesmo tempo pacata e interiorana. É este paradoxo que nos faz ter orgulho de sermos Pompeanos!